22 junho, 2010

Pilinhas e Pipis

Mais do que os pais, as mães preocupam-se muito com os tamanhos, os estreitamentos, as infecções das pilinhas. Já as alterações anatómicas ou pequenas malformações do pipi geram menos questões. Todavia, a observação deverá fazer parte dos cuidados normais de saúde.

A pilinha
Variações do tamanho do pénis
O tamanho do pénis não está relacionado com o desempenho sexual ou com a capacidade reprodutiva.
Em cada mil rapazes, pode surgir uma situação designada por micropénis, ou seja, um pénis pequeno em termos absolutos – em Portugal nascerão cerca de cinquenta bebés por ano com esta condição. As causas podem ser muitas, passando até pela mais completa normalidade. Mais raramente, o micropénis pode estar associado a uma doença genética ou a deficiências endócrinas que afectam a testosterona.


Puxar a pilinha?
 O que fazer à pilinha? Puxa-se? Não se puxa? Deve-se fazer a circuncisão? Sim ou não? A pilinha é, para os pais (para as mães, principalmente!), uma fonte de problemas. E não deverá ser, dado que se trata de um órgão como qualquer outro, devendo ser sujeito às mesmas regras: não agressão, manipulação cuidadosa, deixar evoluir com a idade e higiene, embora se deva manter o seu carácter íntimo e o pudor normal entre as pessoas.
Na esmagadora maioria dos recém-nascidos a pilinha está apertada (chama-se «fimose fisiológica») e só em cerca de quatro por cento dos recém-nascidos se consegue puxar totalmente a pele para trás. Ao ano de idade ainda 50 por cento das crianças tem um aperto. Com o decorrer do tempo a fimose começa a desaparecer e na maioria dos casos, com alguma ajuda por parte dos pais, a pilinha abre-se e tudo fica como deve ser.
A partir do ano de idade, pode começar a puxar-se, muito cautelosamente, nunca ultrapassando o limite que os pais sentem que é o momento em que continuar a puxar «é de mais» – após vencer uma ligeira resistência, surge outra em que forçar seria traumatizante.
Se até aos três anos e meio, mais coisa menos coisa, a situação não estiver resolvida então provavelmente já necessitará da ajuda de um cirurgião pediatra, que puxará (e deverá ser ele) com algum aparato, mas com eficácia, a pilinha para trás.
Deve-se também lavar bem a zona do escroto, dado que é grande e enrugada, sobretudo nos mais novos, e convém retirar tudo o que ficou da contaminação com as fraldas, se a criança ainda as usa.

As aderências balano-prepuciais
Convém distinguir duas coisas: uma o aperto (fimose), outra a situação em que a pele não vem para trás porque as duas camadas estão aderentes (chamada «aderências balano--prepuciais», ou seja, entre a glande e o prepúcio). É esta última que pode ser resolvida sem recurso a cirurgia.
Esperar muito tempo pode conduzir a uma adesão maior, até porque se começam a formar secreções que, tipo «super-cola» pioram a situação. E como se criam bolas de sebo (chamadas «esmegma»), os pais assustam-se porque vêem uns altos brancos por debaixo da pele. A manterem-se, podem doer ou infectar.
A manobra de desfazer as aderências é aparatosa. A criança debate-se, como é natural, não apenas porque está agarrada, mas porque sente que lhe estão a mexer num sítio sensível. Dói um pouco, ou até faz mais impressão do que dói, mas as crianças não querem saber dessas distinções semânticas e queixam-se a sério, esperneiam e choram.
O desfazer das aderências faz sangrar, o que ainda impressiona mais os pais (e sobretudo as mães), acabando a «sessão» num ambiente algo desolador. Mas não se esqueçam que posteriormente será pior, até do ponto de vista psicológico. É indispensável, para que o resultado seja definitivo, que os pais, nas duas a três semanas seguintes, continuem a manobra, puxando totalmente para trás e aplicando vaselina, para que as camadas de pele fiquem lubrificadas e não voltem a aderir.
Muitas vezes, depois da intervenção, as crianças queixam-se que dói a fazer xixi, não querem deixar mexer, os pais não conseguem fazê-lo e a situação regressa ao mesmo. Custa, claro, ver um filho a sofrer, mas se não for assim provavelmente ter-se-á de recorrer a uma intervenção cirúrgica, com tudo o que acarreta, designadamente anestesia geral.
Também é verdade que, passados esses dias, as crianças ficam «inchadas» por passarem a ter uma pilinha igual à do pai ou dos mais velhos. Sentem-se uns homens, e isso deverá ser acentuado, especialmente quando estão a fazer xixi de pé. É bom ensiná-los que essa zona deve ser lavada, como qualquer outra, até porque o acumular de secreções é mais provável.Sem desfazer totalmente a sensibilidade psicológica e mítica que a pilinha tem, não se deve entrar no tabu nem esquecer que é um órgão como qualquer outro, em termos de necessidades de higiene.

Circuncisão
 Há vários argumentos para se fazer a circuncisão – médicos, culturais e religiosos (como no judaísmo, ao oitavo dia depois do nascimento, ou no islamismo, mais perto dos cinco anos). Um aspecto fundamental é que, a fazer, deverá sê-lo num meio hospitalar, com todos os cuidados de assepsia, porque o maior risco são as infecções.
A circuncisão pode justificar-se, nos casos em que o aperto não evolui passados os três, quatro anos de idade, ou em que ocorrem infecções frequentes ou dificuldade em urinar.
Mesmo quando se usam anestesias, são métodos muito rápidos e que não têm nada a ver com as anestesias das grandes operações cirúrgicas. Depois da circuncisão a ponta do pénis pode ficar amarelada, durante uns dias. O importante é combater a infecção e seguir as instruções que o médico que operou recomendar. Geralmente, após sete a dez dias a cicatrização é completa.
Os problemas que podem surgir depois da circuncisão são vários, e se aparecerem os pais deverão contactar o médico: dificuldade em urinar, hemorragia persistente, infecção no pénis que aumenta em três a cinco dias.

O pipi
São menos as questões que podem aparecer relativas ao pipi, em comparação com as pilinhas.
As alterações anatómicas ou pequenas malformações, como por exemplo a colagem (sinéquia) dos pequenos lábios, são detectadas nos primeiros meses de vida. Todavia, a observação do pipi deverá fazer parte dos cuidados normais de saúde.
Um aspecto importante é a lavagem. A mucosa vaginal é muito sensível e pode inflamar-se com facilidade, se sujeita a trauma ou fricção. A lavagem deve ser sempre feita cuidadosamente, e como a criança já vai adquirindo autonomia, inclusivamente iniciando o banho sozinha, por volta dos quatro-cinco anos, deve ensinar-se que a lavagem do pipi deve ser feita mais suavemente do que, por exemplo, as mãos ou os pés.
Por outro lado, há sabonetes e gel de banho que não causam irritação na pele, mas que podem causar na mucosa vaginal, afinal a única mucosa tão exposta a estes produtos. Se isso se verificar, há produtos das linhas cosméticas que são hipo-alergénicos e concebidos para a higiene chamada «íntima».
Uma das causas de inflamação (com consequente ardor ou dor, irritação e vontade de coçar) é a manipulação dos órgãos genitais habitual entre os três--quatro anos – é uma das razões pela qual se deve dizer à criança que deve ter cuidado em evitar essa prática.
A proximidade da região vaginal e da uretra da região anal (nos rapazes o percurso é muito maior), pode favorecer infecções urinárias.
A limpeza deve ser sempre no sentido anterior-posterior, para evitar que o papel higiénico ou o toalhete tragam bactérias que residem nas fezes (como o colibacilo) para a região vagino-
-uretral. Se houver parasitas (oxiúros, por exemplo), estes podem provocar essa contaminação, causando irritabilidade vaginal, com ou sem infecção urinária.

Corrimento
Finalmente, é normal aparecer, cerca dos quatro-cinco anos, um corrimento que «suja as cuecas», às vezes com aspecto esverdeado. Se é a primeira vez, deverá ser feito um exame bacteriológico, micológico e parasitológico para excluir infecção ou infestação. Se se torna repetitivo, a lavagem com um dos solutos de limpeza que referi é suficiente. Deve sossegar-se a criança, para não pensar que está doente.
Caso se constate que as cuecas estão sujas de sangue, por exemplo, há que pensar se não sofreu um traumatismo. Saltar sobre um obstáculo e até as brincadeiras normais podem causar uma lesão vaginal com sangramento, nas que já não usam fralda e que, portanto, estão mais expostas.
Num e noutro sexo é imprescindível insistir para ir à casa de banho regularmente dado que a micção é a melhor forma de evitar infecções urinárias. A retenção (porque estão a brincar e não querem interromper, por exemplo), dá estagnação da urina e tempo para as bactérias se desenvolverem.

Masturbação
Deveremos chamar masturbação ou manipulação dos órgãos sexuais? Se por um lado o acto não se acompanha, nesta idade, de fantasias sexuais, por outro é inegável que a criança tem um prazer próximo do orgasmo.
Estas e outras situações causam apreensão e são confundidas com
doenças (como convulsões) suscitando embaraços e vergonhas. As crianças masturbam-se. Sobretudo a partir dos três anos. E fazem-no porque a exploração do corpo leva-as a descobrir uma experimentação nova e que, ainda por cima, dá prazer. Aliás, descrevem o que sentem como «um choque eléctrico muito bom», «uma coisa boa que arrepia» ou frases similares.
A masturbação é um comportamento normal e como tal deve ser encarado. Associá-la a algo lascivo ou malévolo é transportar para a infância as leituras tortuosas dos adultos e a prova de que as crianças não têm qualquer sentimento «menos próprio» é que o fazem à frente de toda a gente.
Se os pais não deixarem, muitas vezes por excesso de zelo, a criança passar pelas fases normais – que aparecem e desaparecem de repente –, irão perturbar a sua sexualidade e a definição clara do seu sexo, género e a sua visão da dos outros. Esta falta de definição pode conduzir a ambiguidade comportamental (rapazes efeminados ou raparigas masculinizadas), ou então a exagero compensatório na sua identificação (rapazes machões e raparigas demasiadamente «donzelas»).
A atitude dos pais deve ser de respeito e sem emitir qualquer juízo de valor. Se se fizer um bicho-de-sete-
-cabeças, pode até ser que a criança deixe de se masturbar, mas ter-se-á inserido um componente anómalo no percurso normal da sexualidade, podendo mais tarde essa bomba-relógio rebentar de um modo estranho e a desoras. Remeter a sexualidade infantil e respectivos comportamentos para o domínio da vergonha é errado e pode ter consequências indesejáveis.
No entanto, é bom passar a mensagem de que há comportamentos que requerem intimidade e privacidade. Numa conversa a sós, fora de um episódio, é bom dizer que os órgãos genitais são sensíveis e que esfregá-los pode causar dor ou lesão, e que assim como não se anda nu na rua ou até na praia, também a manipulação dos órgãos genitais deve ser um assunto íntimo e que não deve ter lugar em frente das outras pessoas. Como a sexualidade infantil foi negada durante muito tempo, a normalidade da masturbação nesta idade ainda custa muito a aceitar como algo de saudável. Desde a criança estar possuída até epilepsia, ouve-se de tudo. Se por alguma razão o comportamento se torna francamente obsessivo, acontece em qualquer local (designadamente fora de casa) ou não se reduz com a passagem dos meses, pode haver algum trauma a esclarecer e a intervenção de um psicólogo será o primeiro passo a dar.

Fonte: Pais&Filhos

0 comentários:

Enviar um comentário

Related Posts with Thumbnails