17 março, 2010

O que sonham os bebés?

Os sonhos servem para aprender, treinar, lembrar, esquecer, resolver, reflectir. Ajudam, acima de tudo, a crescer. É por isso que os bebés passam a vida a sonhar.

O que os bebés sonham é ainda um mistério. Eles não contam e não há exames que permitam entrar dentro das suas cabeças. Mas, sabe-se, com toda a certeza, que sonham. E muito. Muito mais do que um adulto.
Ainda dentro da barriga da mãe, o feto passa 95 por cento do tempo a dormir e 80 por cento desse tempo está a sonhar – os adultos sonham durante apenas 20 por cento do sono. «O feto começa a passar pelo sono REM a partir da 23ª semana de gravidez. Alguns estudos afirmam ter provado que, entre a 24ª e a 30ª semanas, o feto sonha durante todo o tempo de sono», escreve o pedopsicólogo Richard Woolfson no livro «Em que pensa o meu bebé?» (Texto Editores).

O sono REM (Rapid Eye Movement – Movimento Rápido do Olho) é a fase do sono em que se sonha (ver caixa). Nesta fase, além de as pálpebras mexerem, o corpo fica imóvel, a respiração e o batimento cardíaco tornam-se irregulares. A actividade cerebral é intensa e os sonhos acontecem. Não é propriamente um sono profundo e reparador, mas sim um sono leve. O cérebro trabalha quase como se estivesse acordado. Faz aprendizagens, treina comportamentos, arquiva memórias, recupera pensamentos, resolve dilemas, reflecte. É para tudo isto que se supõe que os sonhos sirvam.
«Os sonhos podem ter várias funções, mas ainda não se sabe exactamente por que sonhamos», afirma Teresa Paiva, neurologista e especialista na área do sono. «Uma vez que os fetos sonham durante a maior parte do tempo, pensa-se que possam estar a sonhar com comportamentos que vão ter quando nascerem», explica, dando um exemplo. «Um pintainho dentro do ovo sonha que está a debicar, que está a andar. Quando nasce, executa esse comportamento com rigor. Os recém-nascidos não têm estes comportamentos autónomos, precisam de cuidados de terceiros, mas nascem com capacidades para garantir que terceiros lhes garantam a sobrevivência.» Assim, o natural é que o bebé dentro da barriga da mãe sonhe que está a chorar, a mamar, a agarrar. «Os sonhos, principalmente os dos fetos e dos bebés, podem servir para aprender comportamentos específicos da espécie que assegurem a sua sobrevivência», resume Teresa Paiva.

Sorrir para a lua

O momento é de espanto e alegria para qualquer pai ou mãe: o bebé, com poucas semanas de vida, está a dormir tranquilo e, aparentemente do nada, sorri. «Está a rir para a Lua» ou «é o riso dos anjos» são as explicações” mais ouvidas. Outras vezes, o bebé parece que faz beicinho ou franze as sobrancelhas. «Está, provavelmente, a sonhar com contextos emocionais, em que essas expressões existem. Está, no fundo, a aprender expressões emocionais», revela Teresa Paiva.
O psicólogo Eduardo Sá explica que «os bebés sonham de uma forma muito semelhante» à dos adultos, mas com algumas restrições: «Nem todas as auto-estradas de comunicação estão maduras na cabeça deles. É natural que a articulação entre imagens, sentimentos e palavras seja mais rudimentar. A partir dos quatro anos, essas ligações nervosas estão mais afinadas e isso sente-se até nos sonhos».
Os recém-nascidos passam cerca de 60 por cento do tempo de sono a sonhar. Os prematuros sonham ainda mais: cerca de 80 por cento. Isto acontece porque os prematuros precisam de desenvolver o cérebro mais depressa, para apanharem os bebés de termo. Além das competências práticas que se aprendem durante os sonhos, a intensa actividade cerebral vivida durante o sono REM serve para que se estabeleçam «novas ligações entre as células cerebrais – ligações vitais para as capacidades associadas ao pensamento», explica Richard Woolfson. «É como se [o bebé] se concentrasse melhor enquanto sonha do que se estivesse acordado, pelo facto de haver menos distracções», acrescenta o pedopsicólogo. Quando um bebé está a dormir mais agitado, passando rapidamente para um sono mais tranquilo sem acordar, é um bom sinal: segundo Woolfson, mais uma nova ligação cerebral que foi criada.
O psicólogo acredita que os sonhos dos bebés os ajudem a reflectir sobre os momentos que viveram durante o dia: «Sonham provavelmente com as experiências sensoriais relacionadas com o momento de mamar, o banho, a muda da fralda». Embora não percebam que estão a sonhar. Distinguir entre estar a sonhar e estar acordado só é possível, explica Eduardo Sá, «a partir do momento em que as palavras permitem à criança aceder à distinção entre passado, presente e futuro e entre faz-de-conta e realidade».

Fonte: Pais&Filhos

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito deste post.
Ajudou-me a entender algumas caretas que a minha princesa faz a dormir. obrigada pela partilha.

Unknown disse...

Interessante

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